O dinheiro do trabalhador depositado no Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS)
perdeu da inflação em 2013 e acumula prejuízo de 19,5% nos últimos 15
anos. Os cálculos são do matemático financeiro José Dutra Vieira
Sobrinho.
Enquanto as contas do fundo foram remuneradas em 3,19% em 2013, a inflação
oficial medida pelo IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) atingiu
5,91%. Isso significa uma perda real do poder de compra de 2,57%,
segundo informa o professor.
Nos últimos 15 anos, porém, as
perdas têm se acumulado ano a ano. No período, a variação do IPCA foi de
161,15% e o rendimento do FGTS, de 110,33%; uma perda real de 19,46%.
Estas perdas seguidas fazem do FGTS uma péssima aplicação para o dinheiro do trabalhador. Em 2013, a poupança
antiga rendeu 6,37% e a poupança nova, que também perdeu da inflação,
rendeu 5,82%. O dólar foi o ativo que mais subiu no ano passado: 15,1%.
"Alguém que tivesse R$ 1.000 no FGTS em janeiro de 2013 teria, ao final
do ano, R$ 1.031,90. Se fosse usar o dinheiro para fazer compras no
mercado, iria ter de repor a diferença, pois a inflação teria exigido R$
1.059,10", diz o professor. "Ou seja, ele não compraria as mesmas
mercadorias."
Em 15 anos, a situação é ainda mais grave. Os
mesmos R$ 1.000 de 1999, se fossem corrigidos pela inflação, valeriam
hoje, R$ 2.611,50. Porém, se estivessem no FGTS, valeriam apenas R$
2.103,33.
O FGTS tem remuneração de 3% ao ano mais a variação da TR, que em 2013
ficou acumulada em 0,19%. A TR é calculada com base na média dos juros
cobrados pelos bancos nos CDBs (Certificados de Depósitos Bancários),
que seguem os juros praticados no mercado sob influência da taxa Selic
(juros básicos).
À medida que a taxa Selic cai, a TR também cai.
Mesmo com a alta da Selic no ano passado, porém, o rendimento da TR foi
pífio. "O governo deveria alterar a taxa de juros que remunera o FGTS,
pois o trabalhador tem sido prejudicado há muitos anos por esse baixo
rendimento", diz o professor Vieira Sobrinho.
Uma decisão
recente do Supremo Tribunal Federal (STF) pode favorecer trabalhadores
que tinham dinheiro no Fundo de Garantia entre 1999 e 2013 a pedir a
revisão do saldo e pleitear a diferença na Justiça.
No ano passado, a Força Sindical também entrou com uma ação coletiva para pedir a correção monetária do FGTS.
Segundo dados do site oficial do FGTS, o fundo administra 546 milhões
de contas vinculadas dos trabalhadores, com mais de 10 milhões de
empresas cadastradas. O patrimônio total do FGTS administrado pela Caixa
passa de R$ 207 bilhões.
Sophia Camargo
Do UOL, em São Paulo
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